Eu parei. Todo mundo para no acostamento para tirar foto desse ipê amarelo. Exuberante, chama a atenção até de motorista distraído.
Também à noite se enxerga a cor vibrante.
Mas pensei: e os outros ipês amarelos? Os roxos? Aqueles que não ficam na cara das pessoas, que estão escondidos nas matas? E aqueles que não estão dando flores ainda?
Os livros. Alguns também estão na nossa cara, exigem atenção. São belos, floridos, não passam despercebidos.
Mas e os outros que não foram plantados na beira da estrada? Que o pássaro não jogou a semente no lugar mais visível da nação? Quem enxerga os livros escondidos entre folhas no meio da mata?
Alguns pagam para estar na vitrine do asfalto. Outros dão a sorte de serem escolhidos ou apreciados por alguém que os coloca ali.
Muitos batalharam. Mas não tem espaço para todos na vitrine.
E os meros mortais, milhares de escritores que não chegaram na vitrine do asfalto?
Precisam se digladiar na internet para conseguir mostrar que no meio do mato também tem flor bonita, também tem história e também merece foto.
Mas tudo é sazonal. Há tempo de plantar e tempo de colher. Tempo de galhos secos e tempo de flores. Cada autor na espera ativa de sua primavera.
Sigo no meio do mato, adubando minha terra, regando minhas raízes, aguardando o despertar natural das minhas flores da próxima estação.
Enquanto isso, estou caçando ipês amarelos literários escondidos, até aqueles que ainda não deram flores, porque quando derem, serei a primeira na fila para tirar foto.
Por Marina Hadlich
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