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Pônei, cavalo, tanto faz

marinahudesouza


A menina acordou cedo porque era um dia especial: seu aniversário de cinco anos de idade. O presente prometido era um pônei, igual ao do desenho e àquele de pelúcia, só que de verdade.

— Mas por que meu pônei não pode ser rosa? E verde existe? Eu gosto tanto de roxo.

Os pais explicaram que os pôneis de verdade não tinham aquelas cores, mas podiam ser pretos, brancos e marrons. A capacidade de imaginação de uma criança às vezes é maior que a de compreensão.

A menina tinha insistido num roxo. Os pais providenciaram um preto. Ela ficaria contente com um preto.

Assim que desceu correndo as escadas seu pai a tomou nos braços:

— Pronta pra ver seu presente de aniversário? Ele está no quintal.

A menina afirmou que sim com a cabeça. Ainda de pijama, no colo do pai, foi levada pela cozinha, onde recebeu um beijo da mãe. Os três dirigiram-se para a porta dos fundos para ver o esperado presente.

A mãe filmava a filha esperando eternizar a reação de alegria e surpresa.

Quando a porta se abriu, em vez de um sorriso e olhos arregalados, lágrimas e choro. O pai pensou que fosse de emoção.

— Não precisa chorar, linda, ele é seu.

Compreendendo a filha, a mãe pensou que fosse pela cor. Iriam providenciar uma capa roxa para satisfazer a filha.

— Por que vocês me deram um cavalo? Eu pedi um pônei.

A pequena ainda não conseguia reparar nas diferenças dos dois animais e correu para seu quarto a fim de chorar sozinha.

Os pais tentaram durante o dia alegrar a menina, mas nada mudou o humor da criança. Esperavam que no dia seguinte a infante estivesse mais animada para sua festa de aniversário.

No meio da noite a menina acordou. Tinha sonhado com seu pônei roxo. Levantou da cama e foi até a janela do seu quarto para ver se o seu presente tinha mudado de cor. “Ora, se o céu muda de cor, porque o meu pônei também não poderia ficar roxo?”, pensou ao puxar só um pedacinho da cortina.

Foi então que ouviu um relinchar.

Berrou alto quando notou as quatro patas correndo pelo quintal. Viu o corpo, mas não a cabeça.

Acordou seus pais com o grito, que vieram acudi-la perguntando o que tinha acontecido.

Pulou no colo do pai:

— Obrigada, eu amo vocês. Uma mula-sem-cabeça é muito mais legal que um pônei ou um cavalo.

Os pais correram até a janela surpresos e viram o pônei correndo atrás das árvores frutíferas, sua cabeça ficava escondida atrás das copas das árvores. Deveriam ter filmado aquele momento de euforia da menina.


Por Marina Hadlich




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